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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Artigo:Transporte no Brasil

Por Samir Keedi*

É muito difícil entender como tudo que é ligado ao transporte se passa no Brasil. Em todos os modos de transporte temos sérios problemas. O que faz da logística brasileira uma das piores do mundo. Sem nenhum favor ao catastrofismo (sic). É pura realidade, infelizmente. E não é só no transporte, mas envolve a operação portuária, longe de padrões aceitáveis. Triste escrevermos isso, mas não temos outra opção, se queremos ajudar.

No transporte marítimo, temos a felicidade de poder desfrutar de uma costa de 7.500 quilômetros. Mas como a usamos, é estarrecedor. É algo que dói até o fundo da alma. A cabotagem, um excelente substituto ao transporte rodoviário, chegou a morrer. Começou a renascer na década de 90, portanto, há poucos anos. Tem um potencial absolutamente fantástico e esperamos que ele se realize. Temos que sair desse marasmo do transporte rodoviário, que domina o transporte de carga dentro do país. Tanto na distribuição de carga, quanto no seu uso para a intermodalidade e a multimodalidade.

O Brasil já foi, e agora pouca gente sabe disso, o segundo maior produtor de navios do mundo. O nosso transporte de comércio exterior chegou a ser de 30% em navios de bandeira brasileira. Hoje está beirando a 0%. Nossos estaleiros também morreram, e vêm renascendo nos últimos anos. Deveremos ter dezenas deles. Mas não vemos chance de recuperarmos aquela extraordinária posição perdida. Não diante da China, Coréia do Sul, Taiwam, etc. que hoje estão em posição de destaque. Fora outros. É uma pena.

O nosso transporte fluvial é quase nulo. E vide que temos 43.000 quilômetros de rios. Segundo se sabe, 16.000 são hidrovias, e apenas 8.000 são utilizados. E esse modo responde por apenas 2% do transporte brasileiro segundo se noticia. Mais uma humilhação. Em especial quando vemos a sua importância nos EUA, na Europa, e para o porto de Rotterdam. Uma pena, uma vez mais. Já que ele é o meio de transporte mais barato que existe.

Quando nos debruçamos sobre o transporte ferroviário, notamos que ele representa 26% da carga transportada dentro de nossas fronteiras. E isso após a privatização e retirada do Estado de suas operações - ainda bem. Que antes era de 18%, e cheio de problemas. Não que já não os temos, mas estão menores com os investimentos realizados pela iniciativa privada. Que segundo se sabe, investiu cerca de 25 bilhões no período entre 1996 e 2009. E em lugar dos prejuízos do Estado, pagou a ele mais de 10 bilhões de reais em concessão e impostos. E o Estado devolveu a ele, em investimento, menos de 10%. Uma lástima, mas normal no Brasil.

Mesmo o rodoviário, que queremos reduzir a cerca de 30%. Hoje é de 60%. Já que somos um país rodoviarista, deveríamos ter estradas adequadas e em condições de uso. Mas, segundo as entidades do setor, 70% delas são ruins ou péssimas. Não dá para entender. Se esse é nosso modo de preferência, ele tem que ser tratado como rei. No entanto, é tratado como mendigo.

E tem mais. Se o rodoviário é nosso modo, temos que ter uma quantidade de estradas coerentes, mesmo que não fossem lá essas coisas. No entanto, ao vermos quanto temos de estradas, nos deparamos com a seguinte situação: 1,5 milhão de quilômetros, e apenas cerca de 170.000 asfaltadas. Nos EUA , em que o trem é o modo preferido, não o caminhão e suas variações, é dito que há 5 milhões de quilômetros de estradas. E todas asfaltadas. Não se entende como as coisas se passam assim. Tem que haver uma mínimo de coerência. E não parece haver este artigo na prateleira do transporte e da logística brasileira.

Os portos são outro mau exemplo. Queremos trazer para cá, para Santos, navios de cerca de 7.000 TEU – Twenty feet or equivalent unit (container de 20 pés ou equivalente – um pé mede 30,48 cm). No entanto, a dragagem do porto continua uma miragem. Fala-se muito e se faz pouco. E ele continua com máximo de 13 metros de profundidade. Muito pouco para o calado (medida entre a linha d’água e a quilha do navio, aquilo que ele precisa de profundidade do porto) desse gigante dos mares. E olha que hoje os navios já estão em 14.000 TEU.

Os portos continuam feudos políticos. Todos sabem que o porto tem que ter administração técnica, profissional. Sua presidência e diretoria não podem, em qualquer hipótese, serem cargos políticos. A economia do país não é para se ficar brincando. É para ser tratada seriamente. Mas, sério, é uma palavra um pouco forte no país, e preferimos reduzir o nível de cobrança. O que reduz, obviamente, toda exigência para o país, que continua a espera de um futuro. E sempre como o país do futuro. E ninguém sabe até quando.

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*Samir Keedi, é economista, consultor e professor da Aduaneiras e diversas universidades, e membro do comitê da ICC-Paris de revisão do atual Incoterms.

Fonte: Revista Sem Fronteiras

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